segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um não ao preconceito mascarado

Andava outro dia pela praia com uma amiga. Aqui, no inverno, temos as areias brancas e o mar de um azul acinzentado banhado pelo silencio da baixa temporada.Não há cadeiras espalhadas,toalhas competindo pelo sol, estiradas na areia, e cobertas de corpos bronzeados. Há apenas poucos atletas de longas caminhadas meditativas,em seus tênis comuns, com moletons e fones nos ouvidos.Ou, aqueles que como eu, andavam em passos lentos, sentindo a brisa fria ressecar os poros, cortar os lábios, e limpar os pulmões, ao som das ondas cálidas lambendo as areias num ritmo sereno, enquanto ouvia minha companheira de caminhadas discursar sobre um assunto corriqueiro, e devaneios pessoais, quando a mesma exclamou.
-Nossa!! que garota medonha!!.
Olhei automaticamente para a fonte da exclamação.  Uma mulher em seus vinte e poucos anos, cabelos loiros, e estrutura corporal farta
- Medonha?- perguntei em duvida. O que havia de medonho em alguem que para mim era simplesmente normal, e caminhava pela praia em um calça legging verde, tênis e uma jaqueta de malha. 
-Sim! Detesto essas gordas ridículas, que se acham. Olhe só toda essa banha apertada na roupa.
Choque e horror! Parei de andar enquanto essa opinião absurda era absorvida por meus ouvidos. "Banha"? "gorda" ? "ridícula"? . Eu estava mesmo andando ao lado de uma pessoa desse "calibre"? 
- "Fulana"*, isso é horrível de se dizer.-falei pausadamente - Se é assim, também sou medonha. Estou acima do peso, usando uma calça legging.
-A Aninha, pare! Você é diferente né.- exclamou,encerrando o assunto.
Diferente? Por que para mim a mesma observação seria diferente? Por que sou amiga da "promotora" ? Não. Porque é mais fácil julgar e criticar quem não pode se defender. Ou melhor : É melhor expor seu verdadeiro ponto de vista em alvos aleatórios, que nunca saberão como ou o que pensa deles, do que correr o risco de magoar alguem, dizendo simplismente a verdade que se repete aleatoriamente na sua mente, toda vez que vê sua amiga com aquela "calça que aperta as banhas".
Quantas vezes fazemos isso. Quantas inúmeras vezes, criticamos ou vemos outros serem criticados, mau vistos ,ou sofrerem preconceito alheio,silencioso e invisível,e não dizemos nada. Concordamos mesmo que inconscientemente façamos o mesmo, porque há no fundo a frase. "Há! Você é diferente né!".
Quantas vezes somos vitimas desse preconconceito mascarado de elogios furtivos, e um sorriso caloroso.Bem...a falsidade é um adjetivo  solido. Mas ouvi-la saltar de lábios amigos, e ser tão sutilmente mascarada quando questionada, transforma a poeira do abstrato em pólvora numa mente inquisitiva.
Esse passeio fez mais que incentivar uma dieta, desconfiar dos "amigos", ou detestar calças legging. 
Agora, peso mil vezes antes de criticar, ou criar preconceitos.Prefiro falar sem mascaras, ou o descaso aos sentimentos alheios. A  vida, ou abtos de ninguém, pertence a terceiros. Deixe o que acho "ridículo", ser "ridículo" feliz, e aos poucos, dou um fim ao preconceito sem sentido e mascarado de opinião. Afinal, como disse um grande filosofo: Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra.

*Fulana =Nome da amiga, qual prefiro não revelar. Ela já terá muito com o que lidar na própria  consciência. .



6 comentários:

  1. O artigo merece o aplauso, o assunto merece a reflexão, pois como observado pela autora, quantas vezes somos alvos indiretos do preconceito sem sequer nos manifestar, apenas por não estar direcionado a nós de maneira escancarada? É dispensável acrescentar que inúmeras. Porém o foco deve ser que a opinião alheia nada vale em relação para uma mente esclarecida, um ser humano que realmente sabe amar, lutar contra o preconceito SEMPRE, mas se importar com a opinião alheia sempre para se refletir, somos o que somos, com ou sem a aprovação de outrem, devemos apenas manter-nos dentro da boa e íntegra conduta.

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    1. Obrigada anônimo. Seu comentario descreveu excepcionalmente o que quis dizer. É bom ver que a opiniões verdadeiras acima das mascaras sociais.

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  2. Isso me lembra algumas pessoas do meu círculo social. Pessoas que odeiam as outras por nenhum motivo plausível, pessoas que criticam de uma forma destrutiva, pessoas que não respeitam. E eu até me pergunto Por Quê? Para Quê? e me decepciono. E sim, o melhor castigo é aquele da própria consciência, dos próprios atos. Adorei o post! Vale um hip-hurra? x D

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    1. Obrigada Maria :) fico realmente feliz que tenha gostado, e sua opinião foi brilhante. Dois Hurras!

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  3. Nossa, perfeito o seu texto!!!! E se eu parar para pensar, vou me dar conta de que vivo rodeada de pessoas mascaradas. E se eu pensar muito, enlouqueço. Hoje mesmo me aconteceu algo assim. Eu fiz uma publicação no facebook sobre essa paranoia que as pessoas tem sobre academia. E alguém comentou dizendo que é uma questão de saúde. Eu repliquei o comentário argumentando que nem tudo é saúde, alguns são obcecados mesmo. Daí essa pessoa finalizou dizendo: Vc é linda, experimente entrar na onde pra vc ver! Detalhe: sou gordinha. Se tivesse pessoalmente essa conversa renderia horas, mas como era virtual, nem repliquei novamente. Mas isso foi um comentário preconceituoso mascarado.... coisas assim me deixam p... da vida...

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    1. Flor, pior que é assim mesmo! E serio, saúde é sentir-se bem consigo mesmo, sem precisar ir para uma academia preocupado com o que outras pessoas vão pensar sobre você ou seu corpo.

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